Por Daniel Felipe
Com a emergência e a consequente popularização das redes sociais, ocorrida no início deste século XXI, opinião virou mato. Está em todos os lugares, crescendo sem que seja necessário um cultivo esmerado. E, em meio ao capim indesejado, também nasce um bocado de ervas daninhas.
O que é falar sobre um livro ou um filme hoje, fora do âmbito acadêmico? Enquanto o jornalismo cultural, salvo exceções, se acostumou com a fórmula gasta de resumir a ação de uma obra e emitir um parecer que justifique um investimento, seja de tempo ou de dinheiro, nas mídias digitais a figura do influenciador muitas vezes aceita entrar no jogo dos departamentos de marketing, tornando-se uma espécie de garoto-propaganda (quase sempre sustentado apenas pelo jabá) de um objeto para o culto e o consumo.
Obviamente, cada um desses atores tem um papel significativo dentro da cadeia de produção cultural. A cultura, afinal, precisa se sustentar. Mas que o pensamento crítico faz falta, isso faz. Refém da causalidade e do gozo fácil, a resenha, como tipologia, carece atualmente da crítica.
A crítica é uma parte essencial da vida social das obras. A crítica é a faísca que gera a reflexão sobre um trabalho artístico no contexto de sua contemporaneidade. Da mesma forma que uma obra, uma crítica é fruto de um tempo determinado, de um espaço determinado – uma conversa do tempo presente com a historicidade.
Sem o distanciamento e a metodologia do acadêmico, o texto crítico se permite ao mesmo tempo analisar e fruir. Articular a lógica rigorosa com as paixões que, subjetivas, envolvem a escolha entre esta e aquela obra. Pensar nos códigos mobilizados como elementos de sentido, e também se propor a tomadas de posição. Promover embates e pontos de tensão entre o canônico e as afinidades eletivas do crítico.
Em resumo, talvez muito mais do que em outras épocas, a crítica é altamente necessária em meio ao caos discursivo do atual momento. Um olhar que mira para um incerto futuro.
*
Esta é a proposta desta Cena Revista. Reavivar o pensamento crítico fora da academia, colocando-o em jogo em meio ao grande matagal no qual estamos embrenhados.

