Por Anthony Almeida
PRÓLOGO
Vez em vez escrevo para distrair a cabeça, para espairecer. Nessas ocasiões, a opção costuma ser um desafogo em metalinguagem com certa quantidade de exercício estilístico.
MERGULHO E RODEIO
Esta é mais uma metacrônica, crônica que fala de crônica. E, melhor ainda, uma metacrônica de desabafo. Duas coisas, achei, ingênuo, q ñ voltaria a escrever, escrevi muita metacrônica quando comecei a cronicar.
Exagero, claro. A metacrônica literária é legal. Qq dia voltarei a escrever e publicar alguma, mais uma metalinguagem. E a de desabafo, q expõe privacidades consideradas impublicáveis? Pq fazê-la? Hum, talvez pq seja sublimatória*.
Jogo minhas lamúrias na bichinha, este pedaço de papel digital, e tudo se resolve. Mais uma ingenuidade. Serei sensato, ñ se resolve.
Entretanto, contudo e todavia, alivia a mente através do uso da criatividade, canaliza a energia impulsiva carregada de amargura, ingrediente geralmente povoador do supracitado quengo no momento de sua concepção, e, de certa forma, responde um SIM! {de letras garrafais [sempre quis usar o termo letras garrafais numa crônica (tbm sempre quis usar parênteses dentro de colchetes e colchetes dentro de chaves — a ideia de usar o aposto c/ travessão como mais uma camada de distanciamento do texto principal, conquanto, foi coisa do calor do momento da redação)]}** ao título — sim, amiga, amigo ou amigue leitora, leitor ou leitore, vc pode voltar e reler o parágrafo s/ o q está dentro das chaves, e, tbm, se quiser, claro (ñ se faz necessário obrigar ninguém, ainda mais uma amiga, um amigo ou ume amigue, né?), s/ o q está após o segundo travessão (em conjunto c/ esse caminhão de vírgulas) empregado algumas linhas atrás.
A segunda nota de texto, por sua vez, tbm é desnecessária (rá!), pelo menos é o q parece (arrá!). A dica adiante, no entanto, é importante para a fluidez da mensagem principal: após o “SIM!” em letras garrafais, pule para o trecho após os dois asteriscos e depois acrescente um ponto final antes do tal segundo travessão {é só o ponto final do parágrafo, tá?, ainda tem mais crônica [e os parágrafos adiante são menores, blzinha? (eis outro fetiche em forma de verbete, fruto da mistura da contração com o diminutivo)]}.
Logo, escrever metacrônica de desabafo não resolve [o/os problema/s]: entretanto, alivia; contudo, canaliza; todavia, responde, ou tenta responder. E, como se vê, labirintifica. Como diz o manual da boa docência, a repetição é uma grande ferramenta de ensino, ajuda a absorver ideias. Por isso, retomei, neste parágrafo, os sinônimos da querida conjunção “mas”, para assimilar e sintetizar (e pq tbm sempre quis isso numa crônica) a ideia central.
Chega de digressões. Chega de internetês. Chega de justificativas.
Ainda assim, vale ressaltar que abro parênteses na vida o tempo todo.
Pq não abriria numa crônica?
A RESPOSTA
Tudo começou com minha necessidade de dizer “SIM!” em revide a uma cobrança e a uma pergunta: “Escreveu?”. A resposta inicial foi não. Refutação consciente, fiz outras coisas significativas. A sucessão dos fatos após a negação é que me chateou.
E é aqui o início do desabafo. Escrever para desanuviar o juízo.
Aí surge a tal crônica de desabafo. Restrita. Muitas vezes iniciada por tópicos e listas.
Nessa, um belo rol de feitos que apontam o motivo pelo qual o aquilo-a-ser-escrito não o foi. Fatos pouco importantes por muito importarem.
A crônica em lista nasce e serve como atenuante da carga de aborrecimento. Conduz o amargor pelas correntes dum longo riacho retificado, flui até desembocar num lago de água doce. Não resolve o problema, mas inteira a resposta “Não!”.
A LISTA DE FEITOS
Trecho impublicável. Conteúdo privativo.
Nesses casos, não há nada de indecoroso. São coisas impublicáveis pelo seu conteúdo intimista em tom de lamentação, aqui e acolá alimentadas por incertezas.
Nada demais. Nem tudo precisa ser exposto ao mundo.
SIM, ESCREVI
Depois de tanta coisa, o fôlego acabou. As coisas não se resolveram. É difícil até retomar as ideias. A reflexão sobre não ter escrito o breguesso foi importante. Mas é preciso ressaltar que escrever uma metracrônica de desabafo não significa que agora eu não precise escrever outras coisas.
Tenho nas mãos um belíssimo e confuso texto. Está cheio de exercício estilístico. Posso contar até quais foram os recursos exercitados. Há um apêndice para isso.
Precisarei, ainda assim, escrever. Mas escrevi? Não!
NOTAS DE TEXTO
* Olha q blz! Consegui usar dois recursos bacanas:
a) notas de texto e
b) aplicação de internetês (a forma (des)contraída de escrever nos bate-papos da web).
Para ir além duma metanota, cabe a curiosidade da sublimação química, a passagem do estado sólido diretamente ao estado gasoso, partir do rígido ao excelso. Ressalte-se, porém, q aki (caqui?) falo da psissublimação.
** Tbm acho bacana tentar utilizar todos os sinônimos de “mas”.
Não obstante, pode ser cansativo. Apesar disso, sirvo-me de alguns vocábulos e expressões. Dispensei o “sem embargo”.
APÊNDICE
Lista de elementos e recursos utilizados intencionalmente para o exercício estilístico.
1. Divisão em seções (prólogo, partes de desenvolvimento, notas de texto e apêndice);
2. Linguagem de internet (q = que, ñ = não, qq = qualquer, pq = por que (e suas variações), blz = beleza, aki = aqui, tbm = também, c/ = com, s/ = sem, vc = você);
3. Cacofonia (q aki/caqui);
4. Regionalismo nordestino (bichinha, quengo, desanuviar o juízo, breguesso);
5. Metalinguagem (crônica e nota);
6. Neologismo por derivação prefixal (metanota, psissublimação);
7. Sucessivas camadas digressivas (mergulho);
8. Circunlóquios (rodeio);
9. Linguagem oral/escrita não-binária de gênero ou neutra (ume amigue leitore);
10. Anáfora (chega… chega…chega);
11. Paradoxo (importância);
12. Listagens.
Presidente Prudente/SP. Fevereiro, 2017.

