Por Daniel Felipe
A ficção As Aventuras de Pitu (Kotter, 2023), livro de estreia de Huendel Viana, possui uma qualidade particular. Listado como juvenil, o trabalho tem a capacidade de também se comunicar com públicos mais infantis e adultos. O autor produz uma literatura que não subestima o leitor, independente da idade que tenha.
No centro da obra está a cachorrinha Pitu. Ela acompanha o crescimento de dois irmãos, um dos quais o narrador. Desde a primeira página, o leitor sabe que se trata de um olhar para o passado – ou seja, o crescimento dos meninos é acompanhado pela existência do animal em sua totalidade, nessa injustiça inerente ao planeta Terra que é a curta duração da vida canina se comparada às nossas.
O livro é demarcado por duas partes, representativas da mudança familiar de uma casa a outra. A alteração espacial é também um rito de passagem. Narrativamente, a primeira metade diz respeito a uma apresentação dos personagens, num tom próximo da crônica; na segunda é que a história ganha tons mais aventureiros e até mesmo oníricos.
Ao longo do texto, Pitu e as crianças fazem amigos, se embrenham no mato, se perdem, se acham, passam por apuros, vivenciam mistérios e enfrentam o desconhecido, legando memórias no processo de conhecer e desvendar o mundo. Uma delas em particular, uma foto, é o elemento gerador de toda a nostalgia que faz o narrador olhar para seu crescimento – uma trajetória que é indissociável da companhia do animal.
Indissociabilidade que, diga-se, é também a de muitos de nós. Há uma universalidade na figura de Pitu, e não será difícil o leitor pensar em suas próprias aventuras particulares com alguma nostalgia.
O final do livro, mais do que a finitude, aborda os sentimentos que sobrevivem à passagem do tempo. É de uma delicadeza que vale toda a leitura.
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Serviço
As Aventuras de Pitu, de Huendel Viana
Kotter Editorial, 2023

