Por Daniel Felipe
O mineiro Murilo Rubião (1916-1991) é um dos maiores contistas brasileiros do século XX, embora tenha publicado relativamente pouco. Mais precisamente, o autor lançou em vida apenas trinta e três contos. Trinta e três, tal qual a idade de Cristo.
Evocar Cristo, aqui, não se dá à toa, uma vez que, texto após texto, Rubião utiliza epígrafes bíblicas, de modo a enfatizar, no universo insólito que criou, uma dimensão figurativa comum à escrita parabolar.
Indo por caminhos diferentes em relação à tradição realista brasileira, Rubião foi uma nota dissonante, um desbravador do fantástico em nosso continente. Mesmo que sua Obra Completa conte com apenas cerca de 250 páginas, é possível identificar nela um rol de personagens maiúsculos, que poderiam figurar em qualquer antologia da literatura brasileira fundamental.
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Em escritos como “Teleco, o Coelhinho”, “O Ex-Mágico da Taberna Minhota”, “Bárbara”, “Os Dragões” e “A Cidade”, Rubião não gastou tempo com gorduras. Do primeiro ao último conto, trata-se do mesmo autor – no melhor e mais estrito sentido que essa colocação possa ter.
Em outras palavras, a leitura da Obra Completa mostra um contista que construiu um corpo de produção onde cada uma de suas partes independentes apresenta grande coerência com o todo. A partir disso, revela-se um projeto criativo que, a despeito de sua brevidade, se manteve de pé do início ao fim. E isso é louvável.
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Serviço
Obra Completa, de Murilo Rubião. Companhia das Letras, 2016.
Imagem: ilustração de Rafael Rubião sobre foto disponível em murilorubiao.com.br


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